ESPETÁCULOS
Baseado no texto "A Banana do Brasil", do bailarino e coreógrafo Bruno de Jesus, o espetáculo Quem te pariu? carrega delicadamente a construção na ideia do corpo brasileiro a partir de experimentações de corpo e movimento, aguçado por danças de matrizes africanas, indígenas, suas fusões e possibilidades, onde a gestualidade e o volume corpóreo propõem um diálogo direto entre os elementos cênicos que potencializam inquietações e questionamentos.
Quem te pariu? - 2008
Foto: André Frutuôso
O espetáculo é inspirado na experiência que o bailarino e coreógrafo Bruno de Jesus vivenciou num hospital de Salvador, onde passou por uma cirurgia de retirada do apêndice. Manolo encubado explora a poesia do movimento, suas estéticas e o corpo que dança em meio ao labirinto do cotidiano. A dança lança mão da metalinguagem. De forma poética, a relação de independência e/ou dependência num discurso coreográfico apresenta um sujeito que busca entender sua liberdade e autonomia, se é que existe...ou criamos histórias...ou denúncias dos anseios.
Manolo Encubado - 2010
A coreografia se relaciona diretamente com o djmbê, instrumento percussivo originário de Guiné-Bissau em forma de cálice, feito de madeira e pele animal. O instrumento é um elemento de cena e sua presença promove um efeito comparativo com o corpo do intérprete: ambos são tratados e expostos ao consumo – sua pele, seu trabalho, numa sala de espera; numa feira, numa sala a ser julgado.
Sala do couro - 2011
Foto: André Frutuôso
O espetáculo MARIETA visita a mulher brasileira, propondo uma reflexão sobre o universo feminino, o feminismo brasileiro. Os bailarinos dialogam com dois fogões em cena; a gestualidade incita o corpo que conversa com a revolução industrial, com o cotidiano. A coreografia mergulha num discurso metafórico. Os elementos configuram a todo instante uma nova relação, o gênero, as emoções, conquistas, a sensualidade...uma dança em casa. Uma conversa entre corpo, onde o espetáculo se desenrola em momentos, coreografias indagadoras, poética e protesto.
Marieta - 2013
Foto: André Frutuôso
Foto: Safira Moreira
A sensação de estar no quintal da própria casa é possível no espetáculo infantil Pau que nasce torto…e o Backyard. A proposta é ocupar espaços onde o público interaja, junto aos bailarinos, em jogos coreográficos, destacando os momentos de diversão coletiva. Inspirado em algumas brincadeiras de rua, o espetáculo infantil não-infantilizado brinca com o movimento, combinando objetos, corpo e sua dança, contemporizando ações, gestos e suas estéticas.
Pau que nasce torto... e o backyard - 2014
Foto: Viana Junior
A coreografia bon-ECA provoca reflexões em torno da violência sexual contra crianças, revelando o caráter frequente e velado na sociedade brasileira. Para potencializar a criação artística, foi feita uma pesquisa com psicólogas que atendem vítimas de violência sexual. A partir desse diálogo, dois objetos-chave se apresentam na coreografia (o desenho no papel branco com giz de cera e a imagem da boneca), que podem carregar histórias e lembranças marcadas na infância, todas ligadas à ingenuidade e à fragilidade.
Em Por que, Zé?, entra em cena o universo da música verdadeiramente popular, focando em três vertentes: o arrocha, o pagode e o funk. A proposta é problematizar o preconceito em torno dessas expressões. O jeito de falar, de vestir, de se divertir. O trabalho coreográfico trata a importância desses estilos, da musicalidade e corporeidade na diversidade cultural brasileira e nas identidades do nosso povo.
Da soma das duas criações, o espetáculo DUPLEX pode ser compreendido como um sistema de comunicação composto por dois interlocutores que podem se relacionar em ambas as direções, neste caso, as duas coreografias e o seu contexto, na linguagem de dança contemporânea.
Duplex - 2014
Foto: André Frutuôso
Foto: Shai Andrade
Da própria pele, não há quem fuja - 2016
O espetáculo Da própria pele, não há quem fuja parte de livres inspirações nas manifestações Zambiapunga e Mandus, mitos e religiosidade de matrizes brasileiras. A pesquisa coreográfica apresenta um olhar antropomórfico, uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a deuses e elementos da natureza. Abordando o corpo que dança como encruzilhada, lugar de encontros e desencontros, respeitando o sagrado, o festivo e as identidades que se constroem. A ancestralidade, as raízes e ramificações sob um olhar contemporâneo numa tradução poética. A casa, a roupa, a fala, o santo, o retrato, o gesto, o trabalho, o canto, a dança, a festa, a pele, o apito, a enxada, a hipoderme, o grito, a televisão, a memória, Tupã, o pano, o caboclo, a batucada, Xangô, a pesca, o índio, a voz, os avós.